quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Trabalhar é Preciso

Está inscrito no nosso DNA: precisamos trabalhar. Para o bem da saúde e aprimoramento da mente precisamos trabalhar. Os músculos e o cérebro foram programados para o movimento, necessitam de exercício para se manterem sadios. É de tal modo, que mesmo quando chega o momento de parar de trabalhar, a sonhada ou temida aposentadoria, se descobre que para sobreviver é preciso buscar atividades alternativas. E lá se vai a criatura, toda faceira ou completamente contrariada, fazer força e puxar ferros numa academia. A luta continua, apenas muda a briga que passa a ter como objetivo manter os músculos e as forças. Alforriados de bater ponto no emprego, o serviço agora é fazer caminhadas, andar de bicicleta ou se dedicar a qualquer coisa para gastar energia e manter ativo o sistema corporal, mantendo também a cabeça ocupada.  Se parar as atividades e ficar da cama para a poltrona alguma doença é resultado certo. Decididamente, não fomos planejados para o ócio estático.
Trabalhar faz parte natural da vida. No dia 1º de maio se celebra o trabalho e as conquistas do trabalhador. Infelizmente, o trabalho como forma de sobreviver está cada vez menos valorizado. O poder do dinheiro, a força do capital está dizimando os ganhos de quem honestamente labuta.  Esse é um fenômeno global, mas a desqualificação por aqui nasceu antes, remonta desde uma colonização feita às custas do sofrimento da escravização de negros e da insubordinação dos índios e foi se perpetuando, mudando apenas a forma de apresentação. Foram quatro séculos de escravatura e ainda hoje se arrastam marcas desse passado sombrio. Como um monstro que revive depois das cinzas, sistemas escravagistas continuam a assombrar muitas vidas em nosso país, com condições de trabalho indignas e jornadas estafantes.
Evoluímos mas continuamos a arrastar as pesadas correntes da desigualdade principalmente no campo do trabalho. Marcados com a sina de ser o país da esperteza, do mínimo esforço e do máximo resultado, chegamos a este 1º de maio sem ter o que comemorar, sem o alento de alguma boa notícia. Reclamações ecoam por todos os lados: da desvalorização do dinheiro, da crescente inflação e desemprego, dos abusivos aumentos de impostos, das ameaças de falta de pagamento de aposentadorias.  E nós, os que têm vozes para bradar ainda estamos de algum modo protegidos pelo sistema e suas leis, nem nos damos conta de tudo o que acontece aos mais desfavorecidos, àqueles que nem vozes têm para falar.
Fortes conglomerados empresariais e requintadas grifes famosas se apropriam de mão de obra em condições de escravidão, se utilizam dos serviços de pessoas que trabalham em condições subumanas. Muitas vidas são transformadas em barata e descartável mão de obra. Paradoxo desse tempo de tecnologia de ponta, mas acumulação de riqueza e aprofundamento das desigualdades sem precedentes.

Nesse nebuloso cenário é difícil, mas indispensável resgatar o valor do trabalho. A profissão nos define como adultos, cola a nossa personalidade, ao nosso nome, a nossa história. Sem seu trabalho, o homem não tem honra. E sem a sua honra, se mata, não dá para ser feliz, como dizia o sábio Gonzaguinha.  Portanto, apesar de todas as circunstâncias: Viva o trabalho!
                  (publicada  Jornal Agora - em 02/05/2015)

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