quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

O Preço do Amanhã

O título deste artigo é o nome de um filme com argumento inspirador. Em “O Preço do Amanhã” ninguém envelhece, pois aos 25 anos cessa o processo de envelhecimento, mas um relógio biológico cruel passa a funcionar. Uma contagem regressiva passa a correr para a morte anunciada. As pessoas passam a ter o tempo de vida restante cronometrado na pele, podendo armazenar ou transferir seu tempo para pagar as transações comerciais de sua vida.
Os ricos podem ser imortais, com o acumulo de muitos anos de vida em seu cronômetro, já o resto da humanidade se digladia de todas as formas para obter apenas mais alguns dias, ou horas ou até mesmo uns poucos minutos a mais de sobrevivência.
Abstraindo-se da trama os aspectos ficcionais, pensando bem pensado, vivemos a pagar o preço do amanhã de vários modos. Temos todos um cronômetro invisível a correr permanentemente, só que nos permitimos viver como se a eternidade nos fosse disponível. Quando surge a doença ou o desamparo da velhice é que se torna muito nítido o custo que tem a vida e que só alguns podem pagar.
Se a moeda de nossas trocas, de repente, se tornasse o tempo, a cada compra feita corresponderia um pedaço de nossa existência, um quinhão de vida que teríamos que devotar ao seu pagamento. Dependendo a renda, alguns bens poderiam custar valiosos anos de vida.
Imaginando um mundo assim, individualmente o cálculo poderia fazer mudar muitas escolhas, alteraria a ordem dos desejos e talvez fizesse sumir umas tantas fictícias necessidades – dado o pedaço de vida a entregar na troca. De sã consciência quem entregaria dois, três, quatro anos de sua existência apenas para desfrutar o prazer instantâneo do carro novo ou da viagem dos sonhos?  Mas é mais ou menos isto que se entrega quando se precisa trabalhar longos meses, viver grandes sufocos pessoais, para usufruir esses e outros prazeres materiais.
A moda ostentação, em vários estilos, é um bom exemplo do quanto uns podem gastar num único objeto o valor que outros jamais conseguirão juntar em toda sua vida de suado trabalho.
O sagrado e fugaz tempo de vida vai sendo trocado por dinheiro e pelas coisas que se possa com ele comprar. Num ritmo cada vez mais alucinado, a vida vai sendo engolida em suas horas e dias, o tempo devorado às pressas.

O futuro é sempre incerto, advogam os imprevidentes, por isto devemos sorver o presente a grandes goles, como se não houvesse amanhã. Por certo, não há certezas no porvir, o futuro a ninguém se pode garantir, mas é semeado pelas esperanças que alimentamos, pelos sonhos que sonhamos. É bom que a vida seja plenamente vivida no gerúndio, mas que o momento presente seja fecundo o suficiente para escrever uma boa história de vida e – de algum modo preparar para o futuro, custear o preço do amanhã.
                                                           (Publicado em 28 de junho de 2014)

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