quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

A Caminho de 2015

Mal digerido o Natal e em escassos dias chega o 31 de dezembro. Final de mais um ano e chegada de outro, novinho nas folhinhas, nos calendários, nas agendas.  É o final de um pequeno ciclo da existência, de um trecho do caminho da vida. Pode parecer bobagem, um dia igual a todos os outros, assim diz muita gente. De fato, tirando seu significado, retirando da noite do dia 31 de dezembro o simbolismo, restará apenas a passagem de mais um dia. Outra forma de exterminar o simbolismo da data é tomar um chá de esquecimento da vida e imaginar que tudo é e sempre será só festa. Mergulhando nos excessos festivos se acaba com a possibilidade de reflexões.
Para os supersticiosos é preciso ter cuidado com os pequenos detalhes, que teriam o poder de afastarem azares e ainda trazerem boa sorte. Peru de Natal no final do ano? Nem pensar! O pobre bicho nos colocaria o próximo ano todo a andar para trás. Coitado do Peru, além de geneticamente modificado e sacrificado, ainda leva as culpas pelos atrasos da existência. E as roupas brancas, o brinde a beira da praia, os sete pulinhos? Esses e outros tantos rituais servem para tentar tornar mais marcante o momento em que os ponteiros se encontram ao alto do relógio, no último dia do ano, quando explodem os fogos de artifício. Ah, os fogos!  De uns tempos para cá passaram a ser medidos em toneladas cada vez maiores e mais demoradas foram ficando as explosões. É o excesso dos excessos, bem ajustado a essa época de overdoses e ostentações generalizadas. Tudo pelas aparências, assim ditam os mais exóticos formadores de opinião aos seus súditos seguidores-copiadores. Se o festival de excessos continua sendo sucesso de público o ano todo, como o Réveillon poderia seria diferente?
Esse ano, por certo, teremos todos que enfrentar ou “curtir” o Réveillon, com suas exageradas celebrações e as tragédias de sempre. Ainda não avançamos o suficiente. Nossos paradigmas continuam os mesmos, cheios de equívocos e contradições. Cada vez mais opulência e luxo, ladeada por miséria e desigualdade.  E o Ano Novo não dá sinal algum de que possa nos trazer a benção de grandes transformações, por mais otimistas que sejamos. Resta-nos torcer por pequenos avanços, fazer o melhor possível a nossa parte e acreditar que – ao longo do tempo – chegaremos a um mundo realmente melhor.
 A vida é transitória, fugaz, e o final de cada ano apenas faz um registro simbólico do quanto é rápida a passagem do tempo. Reforçando esse sentido, lembrei de registrar aqui um pensamento da sabedoria oriental que ouvi inúmeras vezes na minha infância e que – talvez por isso – ficou gravado na minha memória e fez vinco em minha personalidade. São palavras transformadoras, se levadas como lema de vida. Encerro essa última crônica do ano celebrando a chegada do novo ano com esse pensamento inspirador, como fazia minha mãe, ao terminar seus programas na Rádio Riograndina:

               “Só passarei por este mundo uma vez. Assim, todas as boas ações que possa praticar e todas as gentilezas que eu possa dispensar a qualquer ser humano, devo aproveitar este momento e fazê-lo. Não devo adiá-las, nem esquecer-me delas, pois não voltarei a passar por este caminho.”
                            (Publicada Jornal Agora - 27/12/2014)

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