quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Teimosa Esperança

Diante dos fatos, de tudo o que tem sido dito, visto, escrito, gravado e filmado, como alguém ainda pode acreditar no melhor? A situação conspira para o desenho dos mais sombrios presságios. É notícia ruim de todo lado e de variados tipos. A Natureza, reagindo aos maus tratos sofridos, tem dado mostras de sua força e sinais de um porvir ainda mais grave. Quedas de granizo, enchentes e enxurradas deixam de serem fenômenos esporádicos e vão se tornando freqüentes manifestações do clima. Multidões são lançadas ao desabrigo clamando ações de proteção. As ajudas antes destinadas à gente distante, agora são necessárias para vizinhos de porta.   E isso só vai piorar. O cenário político-social completa o quadro com crise de tudo: da falta de dinheiro à falta de juízo e de vergonha. A confusão inspira um caos coletivo e um país à deriva.
Olhando mais adiante, aparecem maiores e mais graves problemas. O drama de refugiados oriundos de vários países; multidões fugindo em desespero a implorar por ajuda humanitária. Fechar os olhos e tapar os ouvidos já não mais é possível. Acreditar em que? Em quem?Como?  Se essas parecerem perguntas sem resposta, então estamos no ponto em que só resta o amparo da esperança, a força da fé capaz de remover a montanha de coisas ruins e afastar os maus agouros.
Esperança é coisa que raramente se tem quando ainda se é jovem e está de bem com a vida. Nessa época a autoconfiança e auto-estima bastam para tocar o barco. Jovens confiam na melhor versão do porvir, cheios de alegria e entusiasmo, plenos de certezas. Quando, porém a existência vai se prolongando, as expectativas dificilmente se cumprem à altura do esperado. É preciso enfrentar decepções, frustrações, dificuldades e problemas. As alternativas vão ficando cada vez mais restritas. Ai, a tal autoconfiança vai se esvaindo, minguando diante das situações vividas. Excluindo os poucos vitoriosos, para quem a vida só sorri e parece tudo dar certo, a grande leva dos demais escreverá uma biografia mediana ou pior que isto.  E por este ser o script mais comum no existir, alimentar esperanças é uma preciosa dádiva que se pode ganhar e aprimorar ao amadurecer. A sabedoria da vida coloca cada coisa a seu tempo, nem antes e nem após o necessário: aos jovens ímpetos e coragem; aos mais idosos, prudência, paciência e esperança. Isso na escala individual, a nível coletivo situações dramáticas e drásticas como as citadas ao início são impostas a crianças, jovens e velhos, atirados a mesma condição de impotência e desamparo.

Nos momentos mais difíceis, quando se perde de vista o horizonte e não se encontra sequer sinal de algum porto seguro, só a esperança pode salvar. Esse sentimento poderoso e insistente é capaz de manter o ânimo, restituir a energia, apesar de tudo e apesar de todas as mais adversas circunstâncias. A teimosa esperança que insiste sempre na possibilidade de uma saída, de um salvador desfecho, ainda que este possa parecer impossível. A teimosa esperança que repete sempre: tudo passa e esse momento ruim também vai passar. A chuva passa, o Sol volta a brilhar e o mundo vai melhorar, um dia vai melhorar. Diante das agudas aflições do momento, para manter a saúde e sobreviver é preciso teimar em manter acesa a chama da esperança.
                  (publicado no Jornal Agora - em 03/10/2015)

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