quinta-feira, 3 de abril de 2014

Semeador de Bons Exemplos

Dentre as tantas coisas esquecidas nos porões do passado estão os conselhos e os bons exemplos. Esta é uma época em que valores e comportamentos são balizados pelas atitudes escandalosas das celebridades do momento. Para nossa pouca sorte, sucesso nada tem a ver com inteligência e menos ainda com sabedoria. Daí, essas pessoas de sucesso meteórico, alçados a nobre condição de formadores de opinião, muitas vezes esboçam pensamentos miúdos e são protagonistas de comportamentos lamentáveis.
Por outro lado, no seio das famílias, os pais se ocupam de quase tudo, animados com a ilusão de oferecer aos filhos uma vida sorvida na plenitude de eternas diversões. Bem poucos se preocupam de forjar valores em sua prole, oferecendo-lhes bons exemplos de vida. Os avós deixaram de ser a referência em sabedoria e experiência. Alguns estão ainda comprometidos com a profissão, sem tempo para cuidar ou conviver com netos; outros vivem a juventude tardia da terceira idade festiva, sem disposição para suas crianças. Os que conseguem tempo para oferecer, muitas vezes se deparam com netos que não querem mais ouvir velhas histórias, muito menos saber de conselhos sábios ou bons exemplos, abduzidos que estão pelo mundo da imagem, pelos estímulos de videogames, pelo universo da tecnologia.
 Já os professores, tão mal pagos, quanto excessivamente ocupados, não conseguem remendar as falhas deixadas pelas famílias. Desvalorizados social e economicamente, deixaram de ser modelo para seus alunos. Para piorar o que já estaria ruim, somos todos, de todas as faixas etárias, envolvidos por noticias que dão conta de constantes e chocantes maus exemplos ensejados por aqueles que deveriam ser os melhores dentre os melhores de nós, representando nossas maiores virtudes. Mas, bem o contrário, todos o sabemos, nossos representantes são o retrato fiel de nossos piores defeitos.

Nesse desalentador cenário, eis que, de súbito, nos surge um Papa que se ocupa de semear bons exemplos, atento até a pequenos detalhes. Porque se preocuparia ele de não usar excessivos luxos e confortos? Que diferença lhe faria desfilar numa limusine suntuosa, dormir em suíte presidencial e gozar outros requintes? Pois é bom pensar – e esse é momento oportuno para refletir - que há vários motivos para tal atitude. O primeiro, possivelmente, é porque o Pontífice seja um homem de alma simples. Por sua genuína simplicidade, pode – sem esforço e com absoluta naturalidade – fazer escolhas que para gente bem menos importante seria um sacrifício, senão um sacrilégio. Se, antes de ser Papa, seus comportamentos eram da esfera privada, hoje são públicos e por isso de grande relevância. Como líder religioso máximo e como chefe de estado é uma referência. Diferente de praticamente todos os demais lideres políticos ou religiosos, Francisco tem honrado a importância de seu papel, sendo coerente com sua índole e com a importância do lugar que hoje ocupa. Com a alegria e a alma tranqüila dos justos está semeando bons exemplos com atitudes de simplicidade e desapego às riquezas materiais. Infelizmente – sejamos realistas – é árido o terreno de nosso país, tão mal acostumado a ser aviltado pelo abuso ostensivo daqueles que deveriam nos inspirar e honrar. Resta desejar – quem sabe orar reza forte – que o semeador de bons exemplos possa operar o milagre de fazer vingar novos valores e ensejar uma onda de melhores comportamentos.
                                                                                       Publicado em 28/07/2013

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