quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Festa Ostentação

Na última semana dois casamentos chamaram atenção. Num deles, os noivos convidaram como uma de suas madrinhas nada mais e nada menos do que a Presidente da República, convidando também outros dos mais importantes membros da corte republicana.  O noivo, segundo publicado, é o cardiologista dos políticos mais poderosos do país e deve ser realmente muito prestigiado, pois todos compareceram pessoalmente. Foi o casamento ostentação de poder, com direito a panelaços de protesto na entrada, dado o atual descontentamento com a classe política.
O outro casamento foi da cantora Preta Gil, celebrado ao estilo luxo ostentação, desde os cinqüenta padrinhos ao excessivo custo da festa, comentado e muito criticado nas redes sociais.  As duas festas, bem diferentes uma da outra, são exemplos da atual tendência de transformar o que seria um acontecimento familiar, num evento público de demonstração de poder, de sucesso. Os noivos desses casamentos estão “podendo”.
O luxo exagerado, que antes se chamava de brega, agora virou chique. Essa moda ostentação curiosamente saiu das periferias, com correntes grossas no pescoço, tatuagens, pircings, bonés com grandes letras douradas. O gosto pelo excesso e pelas demonstrações de poder desceu os morros, embalado pela moda funk e caiu no gosto das classes mais abastadas, que parecem estar perdendo o senso de medida e o constrangimento.
Não é suficiente ter, o mais importante é se mostrar o que tem, não importa de onde se tenha tirado ou como haja sido comprado. Aliás, pensando melhor, nem importa o ter, desde que se consiga fazer de conta, aparentar que se possua.  É a vida e a felicidade traduzidas pela exibição do sucesso aparente e de tudo o que seja caro. Quanto mais caro melhor, seguindo a lógica de que vale pelo que custa e de que as pessoas valem pelo que aparentem possuir.
Quem está pagando tudo isto? De onde sai tanto dinheiro para sustentar esta moda? Há um nexo evidente entre alguns tipos de crime, inclusive a corrupção, e o mundo ostentação, tantas vezes sustentado com dinheiro de origem suspeita ou fonte não declarada.  Essa ligação fica ainda mais forte quando se percebe que mesmo em momentos de crise econômica o mercado da moda ostentação só cresce. Como ainda está em curva ascendente, não dá para visualizar até onde poderá ir essa onda de gastança e opulência.  Mas, como tudo passa, isto também há de passar.

Por ora, resta aos que não concordam suportar o momentâneo sucesso desse indigesto festival de excessos e de mau gosto. Como consolo, vale saber que há ondas contrárias, movimentos de pessoas que estão despertando para a vida simples, optando pelo despojamento. Paralelo ao delirante consumo ostentação cresce o número de pessoas que discordam desse modelo e que está buscando resgatar a importância do que é essencial.  Um exemplo disto foi um convite de casamento que recebi. Constava ali, como indicação de traje: “quem somos nós para dizer a roupa que você deve vestir?”. Bem humorado e muito inspirado, o convite era um chamado para um momento de celebração ao amor e ao início de uma nova vida em comum. Apenas isso, simples assim. Não é o que basta?

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