quinta-feira, 3 de abril de 2014

O Dia de 23 Horas

Este será um domingo diferente, um dia de 23 horas. Se para muitos passará despercebido, para outro tanto de gente parecerá ser um ultraje, uma ofensa, um roubo. Isso acontece porque há pessoas que vivenciam essa troca como se experimentassem a síndrome da mudança rápida do fuso horário (chamada de “Jet lag”). Só que na Jet lag é preciso cruzar pelo menos dois fusos, o que quer dizer, que haja no mínimo uma diferença de 2 horas. Uma hora não costuma dar sinal algum. Aliás, para vivenciar essa alteração de uma hora de fuso não é preciso carimbar passaporte nem cruzar oceano, basta fazer o banal vôo de São Paulo a Campo Grande, no MS: uma hora de vôo e uma hora de fuso. É até curioso, dependendo do sentido; se embarca num horário, voando durante uma hora e chegando exatamente no mesmo horário à cidade destino, o que representa um ganho para quem deseja melhor aproveitar a viagem. Quem já passou pela experiência, bem sabe que não há dificuldade alguma, mesmo que poucos dias depois se alterne o percurso – como costuma acontecer aos viajantes.
 Os sintomas da rápida mudança de fuso variam dependendo do sentido em que se esteja viajando, se é “acelerando o dia”, voando em sentido anti-horário, ou o contrário, voando no sentido horário e aumentando as horas de um dia. Ainda podem ser influenciados pelo horário da partida, número de fusos cruzados e pela suscetibilidade individual do passageiro.
A mudança do fuso oficial, feita sempre em noite de sábado para domingo, não precisaria gerar demorado sofrimento nem produzir indignação. Afinal de contas, os dias de domingo são normalmente vividos com rotinas diferentes dos demais dias, inclusive em relação ao sono e a vigília. Isso facilitaria a adaptação. Mas parece que argumento algum consegue impedir que uma grande leva de gente proteste. Os que mais reclamam fazem parte do heterogêneo batalhão dos descontentes crônicos, pessoas que tem na reclamação um hábito, uma forma de ser, praticamente um estilo de vida. Protestam contra a troca de horário e também reclamam das alterações do calor, do frio, do vento, dos dias abafados. Reclamam do excesso disto, da falta daquilo. Reclamam, reclamam, reclamam... Alguns passam todo o verão lastimando a mudança de horário, tecendo uma ladainha de saudade do horário antigo. Para piorar a situação, quanto mais reclamam, mais sentem o desconforto relatado, pois retroalimentam o cérebro com a permanente atenção a seu mal estar. Talvez fosse de bom proveito saberem que a percepção que temos de nosso corpo e das situações que o cercam são profundamente afetadas pelas idéias que levamos na cabeça. Se estiver quente e ficarmos lembrando nossa mente disto, a todo instante, mais calor sentiremos. Se a noite foi curta e passamos o dia a blasfemar contra a mudança de fuso, apenas sentimos maior cansaço e sonolência.
O tempo cronológico é uma cadência percebida de modo sempre relativo, sensível a nosso bom humor ou descontentamento. A hora “roubada” neste final de semana não nos fará falta e se dissipará no correr dos dias. Esse despertar uma hora mais cedo, além de promover economia energética, pode nos oferecer o benefício de melhor aproveitarmos os primeiros raios de sol das manhãs da primavera e do verão, sem para isto precisarmos madrugar.

A vida é uma passagem, somos todos viajantes e mudanças de fuso fazem parte de nossa existência. 
                                                                                             Publicado 19/10/2013

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