quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Meu pedacinho de Mundo

As curtidas e não curtidas do Facebook estabelecem o pedaço de mundo de nossa preferência, o que gostamos de ver e o que não nos interessa saber. Bem-me-quer, mal-me-quer; entre curtidas e não curtidas vai sendo segregado o joio do trigo. É usando esta informação que o algoritmo do site filtra os conteúdos a serem apresentados nas páginas que, distraídos, visualizamos. O Facebook inclusive oculta atualizações de amigos com quem interagimos pouco – e dessa forma aprofunda a distância com esses amigos.
A ordem das pesquisas na internet é estabelecida também com base em concordâncias ou discrepâncias, priorizando páginas coerentes com pontos de vista que já temos, banindo o que se contraponha, conspirando para estreitar  e enrijecer nosso horizonte mental. Criamos uma bolha ideológica em torno de nosso umbigo. E, pior, muitos de nós acreditam que o Mundo todo, quiçá o Universo, está representado nas páginas da internet que visualizam.
A galáxia da internet está enviesando nosso olhar, restringindo as veredas que trilhamos. É fácil observar essa intervenção quando, por exemplo, se faz uma pesquisa para compra de determinado item. A gente pesquisa, escolhe o item, compra e depois por longo tempo continua a ser bombardeado por publicidade sobre dito objeto. O mesmo acontece no caso de outras escolhas, como no site do Netflix. Se um dia você viu dois ou três filmes de ação, o algoritmo entende que é disso que você gosta, só disso. Assim, a página só vai indicar esse gênero ou gêneros semelhantes. Os milhões de páginas que se apresentam no buscador do Google estão ordenados por esse mesmo critério arbitrário e é preciso saber pesquisar para encontrar os conteúdos considerados “irrelevantes” pelo árbitro lógico-matemático do site.
 No entanto, não seja paranóico de pensar que há seres de carne e osso tramando nossas escolhas. Não há pessoas ocupadas conosco, pelo menos não diretamente: são algoritmos que programam e retroalimentam as respostas do computador. Estamos nos tornando reféns dessas equações complexas que ditam a ordem e os conteúdos que serão apresentados e os que serão suprimidos de nossa rede de informação. Só “cai” na nossa rede o que eles, os algoritmos, determinaram ser relevantes para nós, a partir do que nós, inadvertidamente, escolhemos. Vale dizer, portanto, que somos co-responsáveis pelo pedacinho de mundo no qual nos encarceramos. Não por acaso, mas por conseqüência do modo como é balizado o oceano virtual na qual cotidianamente navegamos, parece estar crescendo a intolerância a pensamentos e comportamentos divergentes.  As pessoas estão se aglutinando em guetos ideológicos, buscando apenas o que reflete e reverbera as próprias idéias, banindo quem pense diferente, mesmo que sejam pessoas próximas no mundo real.
Pensa diferente do que alguém postou? Publique sua divergência, exponha contrapontos e se prepare para as pedradas. Virá chumbo grosso e tiro amigo por todos os lados. Saiba que poderá perder amigos de longa data, romper com vizinhos de porta e ser banido até por familiares amados. A internet deveria vir com tarjas de advertência: Use com moderação. Os conteúdos publicados não refletem o pensamento de toda humanidade e podem ser explosivos se entrarem em contato com pessoas que pensem diferente.

           (publicada Jornal Agora - em 30/05/2015)

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